Miafisismo
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Miafisismo (também chamado de henofisitismo) é uma fórmula cristólogica das igrejas ortodoxas orientais e de várias outras igrejas que aderiram somente aos três primeiros concílios ecumênicos. O miafisismo afirma que na pessoa una de Jesus Cristo, Divindade e Humanidade estão unidas em uma única ou singular natureza ("physis"), as duas estão unidas sem separação, sem confusão e sem alteração[1].
Historicamente, cristãos calcedonianos tem considerado o miafisismo em geral como "agradável" numa interpretação ortodoxa, mas eles, de toda forma, percebem o miafisismo dos não calcedonianos como uma forma de monofisismo. As Igrejas não calcedonianas (Ortodoxas orientais) rejeitam esta caracterização[2].
Índice [esconder]
1 História
2 Outras posições
3 Igrejas miafisitas
4 Veja também
5 Referências
6 Ligações externas
[editar]História
O termo "miafisismo" surgiu como uma resposta ao nestorianismo. Como este tem as suas raízes na tradição antioqueana e era contraposta à tradição alexandrina, cristãos na Síria e Egito que queriam se distanciar dos extremos do nestorianismo e desejam manter íntegra a sua posição teológica adotaram este termo para expressar sua posição.
A teologia do miafisismo é baseada no entendimento da natureza (em grego: φύσις - physis) de Cristo: divina e humana. Após navegar entre as doutrinas do docetismo (que afirmava que Cristo apenas "parecia ser" humano) e o adocionismo (que Cristo era um homem que foi escolhido por Deus), Igreja começou a explorar o mistério da natureza de Cristo com mais profundidade. Dois pontos de vista em particular causaram controvérsia:
Nestorianismo, que estressava a distinção entre o divino e o humano em Cristo de tal forma que parecia que era duas pessoas vivendo num mesmo corpo. Este ponto de vista foi condenado no Primeiro Concílio de Éfeso, provocando o cisma com a Igreja Assíria do Oriente.
Eutiquianismo, que por sua vez estressava a unidade das naturezas de Cristo de tal forma que a divindade consumia completamente a sua humanidade, como um oceano consome um copo de vinagre. Esta visão foi condenada no Concílio de Calcedônia.
Em resposta ao eutiquianismo, este segundo concílio adotou o diafisismo, que claramente distingue entre "pessoa" e "natureza", afirmando que Cristo é uma pessoa em duas naturezas, mas enfatiza que as naturezas são "sem confusão, sem mudança, sem divisão e sem separação".
Os miafisitas rejeitaram esta definição como sendo quase nestoriana e, ao invés disso, aderiram à fórmula proposta por Cirilo de Alexandria, o principal opositor do nestorianismo, que tinha falado de "um [mia] natureza do Verbo de Deus encarnado" (μία φύσις τοῦ θεοῦ λόγου σεσαρκωμένη - "mia physis tou theou logou sesarkōmenē")[3]. A distinção desta posição era de que o Cristo encarnado tinha uma natureza, mas uma natureza que é ainda tanto divina quanto humana, com todas as características de ambas. Embora os miafisitas terem condenado o eutiquianismo, ambos os grupos eram vistos como monofisitas por seus oponentes.
O Concílio de Calcedônia (451) é geralmente visto como um divisor de águas para a cristologia entre os calcedonianos, pois nele foi adotado o diafisismo. Porém, conforme as Igrejas orientais, especialmente as coptas, no Egito, que mantinham o miafisismo, rejeitaram a decisão do concílio, a controvérsia se tornou um enorme problema sócio-político para o Império bizantino. Houve diversas tentativas de reconciliação entre os campos (incluindo o Henotikon, de 482 d.C.) e o poder mudou de lado várias vezes. Porém, a decisão de Calcedônia continua o ensinamento oficial da Igreja Ortodoxa, da Igreja Católica e dos protestantes tradicionais (como os luteranos). As Igrejas não calcedonianas ortodoxas são geralmente agrupados sob a Ortodoxia oriental.
John Meyerdorff, um historiador deste período da história do cristianismo afirma que o ensinamento oficial da Igreja Ortodoxa não está expressado unicamente no credo calcedoniano, mas numa fórmula "Calcedônia + Cirilo" - ou seja, a posição diofisita expressada por Calcedônia somada à expressão miafisita de Cirilo citada acima em sua interpretação ortodoxa - com a primeira tentando expressar a impossibilidade de expressar de um lado (o diofisita) e a última, o mesmo pelo lado miafisita, ambas necessárias e nenhuma das duas suficientes.
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